quinta-feira, 6 de setembro de 2012

A Última Honra

 Arrastado foi levado a algum lugar, não sabia onde. Estava escuro, mesmo depois de terem-lhe retirado o pano que cobria sua face. Não lhe deram tempo para pensar, justamente por conhecerem quem ele era. Por sorte, antes de chegar ali, ele já sabia deste cruel destino que viria a seguir: Tortura.
 Sua mente sempre havia sido a fuga do seu corpo, nunca por completo, nem tão fácil como um jogo, mas é de certa forma uma competição. Quem vai dominar, a dor física ou a força intelectual...
 Era algo terrível, nesse momento, ele não falava nada, cortavam-lhe os pés, superficialmente, sua pele ardia, mas ele não falava nada. O destino de tantos estava em jogo, e o destino dos seus últimos momentos. Sabia ele que ali, naquele instante, sua força decidiria se ele morreria como um tolo covarde, ou com alegria em sua mente.
 "Era isso!", pensou. Alegria em sua mente, concluíra justamente o ponto necessário a atingir. "Não há dor, ela não é real", falou para si. Mas não mexia os lábios, ou a língua,  não permitia a si mesmo a traição do próprio ser, e dos outros. Amigos que nesse momento pensavam nele e que, graças a ele, permaneceriam vivos. Eram eles que importavam, e sua felicidade no último momento. Cada minuto parecia ser o último, e assim ele certamente desejava.
 Certas vezes conseguia afastar o sofrimento. Outras, era afetado por suas paixões mais agudas... Tanto tempo... Uma eternidade em alguns segundos.
 Alguns longos instantes pertenciam às memórias de seu passado, logo interrompidas por socos e mais perguntas. Mas ele ignorava as perguntas, por mais que pudesse ouvi-las claramente, tentava fingir que não entendia aquele idioma, seu próprio idioma... Fingia ele não entender a violência.
 Começava a perder o controle, a rigidez de seus pensamentos, e percebia que, por sorte, suas paixões não ganhavam força sobre ele, suas respostas bem guardadas não eram expostas, pois assim como sua mente, seu coração também enfraquecia... Não havia desejo de manter-se vivo, afinal, isso seria nada mais que um sonho.
 A dor que tanto evitara tornara-se um manto por cima de seu corpo fraco, mas a sua antiga e companheira fuga lhe continuava fiel, até mesmo a dor era fraca, pouco percebida... Pouco sentida... Como o resto de seu corpo começava a ser.
 Uma lágrima que vinha segurando se soltou do canto do olho fechado, ele olhava para cima, mas não via o teto, ele não via o que seus olhos viam, ele via algo mais. Uma lágrima que aqueles que o atingiam com tanta violência acharam ser de dor e angústia... Era uma lágrima de pena, mas também de alegria.
 Naqueles últimos momentos, últimas batidas do coração, sentidas como um manto que lhe cobria todo o corpo, todo o ser, pararam de lhe espancar, apenas o observavam, sem falar nada, até mesmo os mais terríveis dos seres, estavam arrependidos e admirados.

A dor... A dor não poderia mais vencer seu espírito. Ele prevaleceu alegre... Até morrer.


O Rei Poeta

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