terça-feira, 11 de setembro de 2012

Ladrão de almas

Tire de mim o que sou,
faça de mim tua alma,
busque meu ser, meu som,
mas enquanto puder respirar,
terei sempre o que restou,
serei vivo e serei louco.

Me normalize,
porém nunca lhe direi que desisti.
Falsas palavras não condizem ao meu pensar,
serei sempre pensamento a lutar livre.

Digo:
Tua ideia de revolução,
tua farsa, essa mentira,
tua força é ilusão.
Não me peça por ajuda,
pois ainda estou lúcido.
Faça de mim algo que é teu,
mas não me terás realmente.
Oh, sociedade demente...
Não enxergas em teu fim tamanho breu?

Agora me refiro a ti, ladrão de almas,
nunca contei contigo pra existir,
mesmo eu sendo tão comum...
Passei por minhas dores,
tu conheces nada delas.

Ainda assim, diferente de mim,
tu precisas de quem cativas...
Enquanto somos indivíduos que se amam,
tu não retribui aos grupos que te adoram.

Oh, ladrão de almas...
És mais escravo do que aqueles que te seguem.

Eu posso viver com o que sou,
podes dizer o mesmo de si?
Somos irmãos, mas tu me ordenas.
Somos grãos em grande mar de areia.

Eu não pretendo te dizer o que fazer,
não pretendo liderar, ganhar, nem mesmo falar...
Embora esteja em nossa natureza,
minhas frases fiz à mim,
os que as ouvem às sintonizaram,
mas os que não captam o sinal,
esses estão certos de suas próprias formas.
Já você pretende trocar sinais por grandes cabos,
ou deveria dizer, correntes e cordas...

Eu não vou mudar o rádio de ninguém!
Existem os que me ouvem, existem os que passam a ouvir,
mas eu não obrigarei aqueles que não conhecem e não querem conhecer.
Somos todos livres a buscar algum saber...
Já você, ladrão de almas, por não nos reconhecer,
deseja a vitória por meio da enganação.

Certos seres desejam só sabedoria,
outros, poder sobre a maioria.
Não te quero, não te apoio,
até que me entenda,
tua alma é tão pequena,
oh... Ladrão de almas.

O Rei Poeta

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O que você vê?

Olhe para mim.
O que você vê?

Meu amor, minha alma, meu ser...
O que você vê, se não minha busca,
meu viver, profundo saber...

Somos dois, ouça a bela música,
o quê você vê?

Já busquei em tantos lares,
já fugi de um ou dois altares,
já pedi grandes amores,
não fui bem recompensado.
Já deixei para trás flores,
apenas por delas... Estar cansado.

Um dia olhei para trás,
um fantasma me perguntou:
Olhe para mim,
o que você vê?
Eu não vejo nada.

O Rei Poeta

A Última Honra

 Arrastado foi levado a algum lugar, não sabia onde. Estava escuro, mesmo depois de terem-lhe retirado o pano que cobria sua face. Não lhe deram tempo para pensar, justamente por conhecerem quem ele era. Por sorte, antes de chegar ali, ele já sabia deste cruel destino que viria a seguir: Tortura.
 Sua mente sempre havia sido a fuga do seu corpo, nunca por completo, nem tão fácil como um jogo, mas é de certa forma uma competição. Quem vai dominar, a dor física ou a força intelectual...
 Era algo terrível, nesse momento, ele não falava nada, cortavam-lhe os pés, superficialmente, sua pele ardia, mas ele não falava nada. O destino de tantos estava em jogo, e o destino dos seus últimos momentos. Sabia ele que ali, naquele instante, sua força decidiria se ele morreria como um tolo covarde, ou com alegria em sua mente.
 "Era isso!", pensou. Alegria em sua mente, concluíra justamente o ponto necessário a atingir. "Não há dor, ela não é real", falou para si. Mas não mexia os lábios, ou a língua,  não permitia a si mesmo a traição do próprio ser, e dos outros. Amigos que nesse momento pensavam nele e que, graças a ele, permaneceriam vivos. Eram eles que importavam, e sua felicidade no último momento. Cada minuto parecia ser o último, e assim ele certamente desejava.
 Certas vezes conseguia afastar o sofrimento. Outras, era afetado por suas paixões mais agudas... Tanto tempo... Uma eternidade em alguns segundos.
 Alguns longos instantes pertenciam às memórias de seu passado, logo interrompidas por socos e mais perguntas. Mas ele ignorava as perguntas, por mais que pudesse ouvi-las claramente, tentava fingir que não entendia aquele idioma, seu próprio idioma... Fingia ele não entender a violência.
 Começava a perder o controle, a rigidez de seus pensamentos, e percebia que, por sorte, suas paixões não ganhavam força sobre ele, suas respostas bem guardadas não eram expostas, pois assim como sua mente, seu coração também enfraquecia... Não havia desejo de manter-se vivo, afinal, isso seria nada mais que um sonho.
 A dor que tanto evitara tornara-se um manto por cima de seu corpo fraco, mas a sua antiga e companheira fuga lhe continuava fiel, até mesmo a dor era fraca, pouco percebida... Pouco sentida... Como o resto de seu corpo começava a ser.
 Uma lágrima que vinha segurando se soltou do canto do olho fechado, ele olhava para cima, mas não via o teto, ele não via o que seus olhos viam, ele via algo mais. Uma lágrima que aqueles que o atingiam com tanta violência acharam ser de dor e angústia... Era uma lágrima de pena, mas também de alegria.
 Naqueles últimos momentos, últimas batidas do coração, sentidas como um manto que lhe cobria todo o corpo, todo o ser, pararam de lhe espancar, apenas o observavam, sem falar nada, até mesmo os mais terríveis dos seres, estavam arrependidos e admirados.

A dor... A dor não poderia mais vencer seu espírito. Ele prevaleceu alegre... Até morrer.


O Rei Poeta

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A Idade média do amanhã

Caros seres humanos,

Vivemos na idade média, e assim como no passado, existem aqueles que aparecem como "grandes", representando um suposto progresso da humanidade, quando ainda não progredimos em nada. Nossos valores são números, nossos bens são papéis, nossas noções de sociedade são deveres, cada qual desejaria estar só e rico, em oposto à humildade da união.

 Multidões sofrem na pobreza, como sempre sofreram. Poderosos oprimem os fracos, e os fracos não percebem a opressão. Os que percebem a opressão são desrespeitados pelos acomodados. A intelectualidade é tida como sinal de fraqueza, e os sinais do progresso são tidos como loucura.

 O medo da mudança impera no coração das multidões, e os bens materiais seguram o conservadorismo nas mentes dos que poderiam mudar.

 Números, números e números. Uma fortuna é representada por nada mais que uma quantidade de dígitos nas telas de computadores pessoais e bancários. São números que um dia poderiam tão facilmente deixar de significar qualquer coisa, mas que hoje, podem levar tantos à corrupção de si, à insanidade, vilania... Números que se por algum motivo somem, causam até mesmo o suicídio.

 E grande parte dos tiranos continuam impunes, dando aos súditos sacrifícios de alguns deles para fingirem que existe justiça. Enquanto isso, uma enorme parte dos pobres é continuamente sacrificada, mas o dia, a vida, o jantar e as notícias de jornal continuam.

 Grandes linhas imaginárias separam cotidianos comuns, geram guerras e desespero, dependendo do lado onde se nasce, é possível descobrir o seu futuro, se será próspero ou uma tortura. Nada mais que nomes e definições fictícias separam pouco mais que diferentes, mas muito comuns, comportamentos pessoais. E esses nomes e definições causam mortes por intolerância, intolerância a nada mais que a própria imaginação do outro.

 Mas mesmo assim, aqueles poucos que fingem representar milhões em textos de papel, afirmam que estamos evoluindo, que nossa cultura mudou e a sociedade está progredindo.

 Vivemos em tempos sombrios, pois chegou apenas mais um dia em que, apesar de pouco ter mudado, acreditamos que muito mudou.

 Mas ainda tenho esperança... Que algo possa mudar.

O Rei Poeta

sábado, 1 de setembro de 2012

Liberté, Egalité et Fraternité.

Cresço, minhas raízes são fortes.
Venço competições e esportes,
sou, vivo e penso...
Penso cada dia mais extenso,
mas quero cada vez mais crescer,
raízes teço e esqueço,
no fim do dia apenas percebo,
cresço mais, não venço nada.

"Cresço, digo que desenvolvo.
Cresço, mas não há união.
Cresço, não sou mais animal!
Cresço, gritou por socorro?
Cresço, não me chame de irmão.
Cresço, tu és meu rival."

Venço na vida, no espírito...
"Que espírito? Não creio em espírito."
Então nada sabes de espírito.
"Sou sempre e serei maior que tu,
desde meus genes, até meu sumo ser,
sou perfeito, tu és nada."

Sabes algo de perfeito?
"Sei de liberdade."
Que sabes de liberdade?
"Seis que é divina e maior."
A tua, ou do outro?
"Ambas."
Se tua liberdade é divina, infinita ela é.
Sobra espaço a qualquer outra liberdade, além do infinito?

"És tolo, pois não quer mais crescer."
Cresço, mas conservo meu ser.
"Conserva o que, se nada tens?"
Mente sã, eu tenho ao dizer:
Perdeste teu sumo saber.

"Não cresces mais, és tolo, és tolo!"
Cresço, percebo, mas me abaixo pois agora percebi.
Não devo ganhar de ti,
chamar-lhe-ei de irmão,
partilharei minha... Não...
Nossa, liberdade.

"O que dizes é utopia, vida triste, vida fria!"
Digo apenas o que há na escrita.
Veja como a vida é linda,
não enxergas pois de tanto crescer.

Veja a vida que temos,
quanta vida na potência,
juntos, livres seremos,
basta a tanta violência.

"Devo deixar de conservar
meu modo de ser,
crescer, crescer e crescer..."
Sim, até que de medos surjam amores,
digo livre serás a voar,
até que tuas dores tornem-se flores.

Ou o dia chegará,
em que teu eterno crescer, infinito ser,
ocupará a tudo e a todos.
O dia chegará de não haver mais água, terra, ar...
Serás grande, e tão insignificante,
serás nada mais que a mostra dos erros do teu passado,
serás ultrapassado, após haver matado
irmãos que poderíamos ter sido teus...

Dar-lhe-ei o ultimato:
Crescer até a independência,
de lá partir de mãos dadas,
esquecer ambição no infinito trato,
percebes que deve agora
abandonar triste contrato...
Partir à nova alvorada.

"O que então dizes para mim?"
Digo cresça verdadeiramente,
ou não seja nada.


 O Rei Poeta


segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Núcleo

"Fogo no céu!"
Eles gritavam.
"Tem fogo no céu!"

As luzes do mundo,
por um momento, apagaram.
Eram tantos focos de atenção,
que já não sabiam mais o que gritar.

Um conjunto de átomos, que fossem,
uma partícula transformada,
viram o processo todo,
mas no fim, não havia mais ninguém.

Qual era a história que contavam os gritos?
Para que glória haviam sido prometidos?
São os povos escolhidos, queimando em segundos,
eram gotas de tristeza, sem tempo de cair.

Fogo... Fogo no céu,
não havia pra onde ir.

A miséria sobrava em pó,
a felicidade porém extinta.
O futuro era destino,
pois nunca mais mudaria.

Fogo no céu, fogo de vela,
já não havia diferença.
Um mundo todo de pó,
um mundo todo de terra.

Fogo no céu, um dia eles gritaram,
hoje já não mais tinham voz.

O Rei Poeta

Poesia mia

Admito, nada sei.
De poesia pouco li, ou mesmo lerei.
Talvez um dia, se der na telha,
mas de tantas influências...
Decidi, de poesia, seguir a minha própria trilha.

Sou guiado na vida, na filosofia,
na ciência, na ciclovia,
tantas placas e decisões por mim não feitas,
mas na poesia... Oh poesia...
Na poesia grito por liberdade.

Dizem "leia e serás bom".
Não quero ser bom, só quero escrever.
Logo, faço da poesia meu próprio querer,
dela abuso, erro, refaço,
mas deixo claro:
Na poesia desenho meu próprio traço.

O Rei Poeta